Manter um aquário equilibrado e com baixa manutenção pode parecer um desafio, mas com um planeamento cuidadoso é possível criar um sistema quase autossustentável!
O objetivo é abandonar os fertilizantes comerciais. A introdução de matéria orgânica como folhas secas e substrato biológico rico que fornece macros e micronutrientes naturais.
Este é o caso de um aquário de 60 litros com guppies e tetras neon, mantido a uma temperatura constante de 24ºC, que combina luz natural simulada (LED), filtragem nocturna e suporte à microvida, de modo a atingir um ambiente estável e saudável.
Plano de Iluminação Gradual com Curva de Intensidade
A iluminação está activa das 08:00 às 21:00, com intensidade máxima entre as 13:00 e as 15:00., distribuída ao longo do tempo da seguinte forma:
- 08:00 – 09:00: 10% RGB (acordar lento)
- 09:00 – 12:00: subida gradual até 50% RGB
- 12:00 – 17:00: manutenção de 50% RGB
- 17:00 – 20:00: descida gradual até 10%
- 20:00 – 21:00: transição para 0% (anoitecer)
O plano de iluminação utiliza LED com controlo gradual da intensidade nos canais vermelho (R), verde (G) e azul (B), simulando o nascer e o pôr do sol.
Composição RGB:
- Vermelho: 40%
- Verde: 30%
- Azul: 30%
- Eixo X: horário do dia (08:00 às 21:00)
- Eixo Y: intensidade da luz em percentagem (%)
- Cores:
- Vermelho (linha vermelha)
- Verde (linha verde)
- Azul (linha azul)
Esquema de Iluminação LED - RGB (Percentagem de intensidade)
Este perfil mostra um aumento gradual até o pico por volta das 13h–15h, seguido de um declínio gradual, ideal para simular o ciclo solar e promover o bem-estar dos peixes tal como guppies e tetras-neon, além de favorecer a fotossíntese das plantas.
Este tipo de iluminação,"LED" valoriza o crescimento das plantas, reduz o desconforto dos peixes e evita picos de luz que favorecem o crescimento de algas. A iluminação azul é utilizada com moderação para evitar o crescimento excessivo de algas.
Filtração
O filtro fica desligado apenas entre as 13:00 e as 15:00, num período de 3 horas que coincide com o pico da fotossíntese, garantindo a oxigenação nocturna e a remoção gradual das impurezas, sem interferir com o metabolismo microbiano durante o dia. Isso permite que a microvida (como bactérias, protozoários e microcrustáceos) se desenvolva sem que a remoção mecânica seja excessiva, garantindo a oxigenação nocturna e evitando o excesso de dióxido de carbono (CO₂). Durante o dia, a fotossíntese das plantas é responsável pela oxigenação.
Pico de Fotossíntese
O período máximo de fotossíntese no aquário ocorre entre 13:00 e 15:00, quando os níveis de iluminação atingem:
- R (vermelho): 50%
- G (verde): 45%
- B (azul): 50%
Esse intervalo proporciona as condições ideais para a fotossíntese das plantas aquáticas, pois:
- A intensidade de luz está alta e bem distribuída entre os espectros essenciais.
- As plantas já passaram pela aclimatação da manhã.
- O sistema microbiano está ativo, otimizando o ciclo de nutrientes e gases.
O filtro opera por um período de 21 horas, durante o qual remove o excesso de resíduos e garante a oxigenação da água, sem comprometer a estabilidade do aquário. As bactérias benéficas do filtro sobrevivem bem neste ciclo, uma vez que permanecem num ambiente hidrófilo e com fornecimento de material orgânico durante o dia.
Recomendações:
- Evite sombras causadas por plantas flutuantes.
- Mantenha a cobertura da lâmpada limpa.
- Estimule o equilíbrio natural de CO₂ com folhas secas e matéria orgânica controlada.
Parâmetros recomendados para aquário de 60 litros
- pH: 6.5 a 7.2
- Amônia: 0 ppm
- Nitrito: 0 ppm
- Nitrato: até 20 ppm
- GH (dureza): 6-10 dGH
- KH (alcalinidade): 3-6 dKH
- Temperatura: 24 °C
- Filtro: Desligado das 13:00 às 15:00 (Período de funcionamento de 21 horas)
- Alimentação: Ração de dois em dois dias.
- Manutenção: Não há trocas regulares de água (TPA), o equilíbrio é sustentado pela microvida, folhas secas e raízes de plantas como a Jibóia.
Essa rotina alimentar leve ajuda a manter os níveis de amônia e nitrato controlados, permitindo uma menor dependência de trocas de água"TPA".
Microvida e Sustentação Natural
O aquário foi enriquecido com folhas secas de castanheiro, que alimentam a microvida e ajudam na ciclagem dos nutrientes. Algumas folhas têm mais de três anos e vão permanecer no aquário indefinidamente.
Uma camada de "pasta" branca foi formada naturalmente e actua como substrato biológico activo, sem prejudicar os parâmetros recomendados.
Além disso, uma planta terrestre (Epipremnum aureum - jibóia) está com raízes submersas, auxiliando na absorção de nitratos.
Outros elementos naturais:
- Algas naturais no vidro mantidas sob controle
- Alimentação a cada dois dias com ração
- Sem trocas regulares de água (TPA)
Fauna
O aquário abriga guppies e tetras neon, que convivem bem em ambientes plantados e com fluxo moderado de água.
Comportamento alimentar natural:
- Podem consumir larvas, insectos e moscas pequenas caídas na água
Manutenção e Observações
- Filtro de esponja limpo esporadicamente
- Mídias biológicas não lavadas há mais de 1 ano
- Poda ocasional das plantas promove crescimento vigoroso
- Folhas secas castanheiro deixadas permanentemente ajudam na colonização microbiana
Essas folhas:
- Libertam taninos com propriedades antifúngicas
- Alimentam bactérias e micro-organismos
- Fornecem abrigo para pequenos invertebrados
- Contribuem com traços de nutrientes e proteínas vegetais
Sem Trocas de Água Parcial (TPA) : o sistema está estável há mais de dois meses sem TPA, com os níveis de nitratos e amónia sob controlo, sendo apenas acrescentada água devido à evaporação. A combinação de microvida activa, plantas e alimentação moderada faz com que o ciclo do nitrogênio se mantenha equilibrado.
Renovação Natural do Ecossistema: Um Exemplo Real
Durante uma manutenção de rotina, foi observado que as raízes da planta jibóia (Epipremnum aureum), com parte submersa na água, apresentavam uma camada preta — sinal de acúmulo orgânico e possível estagnação.
A solução foi simples e natural: remover a planta antiga e substituí-la por um novo exemplar saudável.
Simultaneamente, procedeu-se à poda das plantas aquáticas, eliminando as folhas velhas e promovendo a circulação de luz e de nutrientes. Esta foi a última manutenção realizada até à data, que coincidiu com uma TPA de 10% de água (2 meses).
O resultado foi surpreendente: as relvas aquáticas brotaram com mais força, novas plantas começaram a desenvolver folhas rapidamente e o sistema respondeu com sinais evidentes de equilíbrio.
Esta acção não só eliminou focos anaeróbicos e zonas mortas, como também reactivou a microvida e a ciclagem de nutrientes. Trata-se de uma prova real de que pequenas intervenções conscientes fortalecem o ciclo natural do aquário e tornam o ecossistema mais resiliente e autossustentável.
Conclusão: este aquário de 60 litros demonstra como é possível criar um ecossistema equilibrado e quase autossustentável, com base numa iluminação gradual, numa filtração nocturna e num suporte à microvida.
A estabilidade é alcançada através de recursos naturais, planeamento e respeito pelo ritmo biológico dos organismos aquáticos.
É ideal para aquaristas que desejam um sistema mais natural, educativo e de baixa manutenção.
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